sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Soteriologia: A Doutrina da Salvação – Parte 1 ileade - São Paulo - SP

A Eleição do Povo de Israel no Plano Salvífico e suas Responsabilidades com as Nações em relação à Palavra de Deus 1

 Introdução

Deus preparou para aqueles que o ama a bênção da salvação. A terminologia vem do vocábulo grego “soterios” ou “sôtêrias” que significa literalmente “salvação”, “livramento”, “escape”. Soteriologia é a parte doutrinária da teologia sistemática que traz a exposição das verdades inerentes da realidade da salvação em Cristo. A palavra deriva do termo “sôtêrias” e do sufixo “logia” ou “logos” que significa estudo, tratado, ensino, doutrina. “Logos”, nesta concepção tem um sentido mais amplo e significa “verbo”, “ação”; logos, portanto, é também a ação de Deus no plano da salvação do homem. A soma dos elementos, isto é, prefixo e sufixos resultam a terminologia, isso porque o português assimilou os dois termos suprimindo o “s” e substituindo o “a” pelo “o”, daí o termo “soteriologia”. A doutrina da Salvação é fundamental na cristandade e de extrema importância. Ser salvo significa dizer que somos livres do pecado, do juízo e da justiça, em outras palavras é ser livre do mundanismo e da presente era. Resumimos isso em sete aspectos. Primeiro: Tal ação divina importa em nós liberdade (sentido pleno) no Espírito Santo (2Co 3.17), isto é gozamos da liberdade cristã (1Co 10.23-33) e da liberdade de entrarmos na plenitude do Espírito Santo gerando frutos espirituais (Gl 5.22-25). Segundo: Significa também liberdade (libertação) dos vícios, das concupiscências carnais e imoralidades diversas, dos maus pensamentos e desejos profanos contraditórios ao propósito de Deus e das aversões à sua vontade que geram a corrupção genérica (Rm 8.21; 7.4-6; Gl 5.1,13). Terceiro: Implica em “livramento” do pecado (Rm 6.7,18), do arquiinimigo das nossas almas, o diabo e de seus anjos. Quarto: somos libertos da lei (Rm 7.6; 8.2) e das ordenanças judaizantes (Gl 4.3; Cl 2.20). Quinto: Somos livres da maldição da lei (Gl 3.13). Sexto: Somos livres da opressão humana (escravidão: 1Co 9.19). Sétimo: somos por fim libertos da morte que concorre ainda em livramento em todos os âmbitos (Hb 2.15), isto é nos três estágios degenerativos: a) Morte física. b) Morte espiritual. c) Morte eterna. O primeiro item concorre em livramento da morte física porque o salvo morre “momentaneamente” e em Cristo ele “dorme” no SENHOR (ver Jo 11.11-14 cp. 1 Ts 5.13-16) sabendo que haverá de ressuscitar em esperança gloriosa (1 Co 15). O segundo item subtende Livramento da morte espiritual porque o homem sem Deus e sem Cristo está espiritualmente “morto” em delitos e pecados (Ef 2. 1-7) e portanto, totalmente afastado de Deus. Só há esperança para o ser humano que crer no Unigênito Filho de Deus e em seu Nome (Jo 1.12; 1 Jo 3.23) assim receberá a remissão dos pecados (At 10.43), e será justificado pela fé em Cristo (Gl 2.16; Ef 2.8). Por fim o terceiro item diz que a salvação converge em resgate da perdição eterna importando em livramento (Mt 10.22; Ef 2.5; 2Tm 2.10) sabendo que a salvação consiste em desenvolvimento na vida Cristã (Fp 2.12).

         Não podemos falar de salvação sem primeiro entendermos com clareza o propósito de Deus na ação salvífica do povo de Israel inegavelmente revelado nas Santas Escrituras. Ao estudarmos este material soteriológico abrangerei como a ação de Deus no quesito da salvação opera em nós por meio da eleição. Isso é possível mediante fundamental exame do antigo povo hebreu do ponto de vista da relação divina com eles pela escolha, eleição, chamado, santificação e salvação outorgadas a este povo por meio de Deus. Desde os primórdios Deus sempre falou aos homens, aliás, as Sagradas Escrituras já começam com o diálogo Deus-homem (Gn 1.28-30; 2.16,17; 3.4, 8-13, 16-19, 22; 4.6,7, 9-13, 15; 6.13, 16-21; etc.). Deus deu leis especiais para Abraão inicialmente com o fim de firmar um pacto perpétuo não somente com ele, mas com toda a sua posteridade (Gn 17.1-14, 22-27). Deu leis supremas ao povo que deveriam regular sua conduta para com Deus e com o próximo, deu-lhes sacerdotes para encaminhar o povo hebreu à Verdade, levantou profetas para corrigir os erros e os transvios tanto na teologia do povo como na sua conduta bilateral, isto é, na relação com Deus e ao próximo ao mesmo tempo (Êx 20-31). Durante muitos séculos o povo de Israel e Judá rejeitou o padrão determinado por Deus de como eles deveriam se portar em meio à sociedade e ao culto à Yawéh. Ao estudarmos a natureza do chamado divino na vida da nação de Israel e de Judá, no período veterotestamentário, verificamos confirmações claras nas Sagradas Escrituras de que Deus escolheu seu povo para ser modelo de obediência a Ele, e a partir do seu povo escolhido a mensagem salvadora deveria alcançar as demais nações da terra. Durante muito tempo a mensagem de salvação que deveria ser enunciada pelo povo que Deus escolhera (antes do cisma político dos reinos do norte e do sul) fora negligenciada por eles mesmos; um escarcéu de irresponsabilidades, pecados e apostasias consecutivas culminou em desvio, idolatria e rejeição do propósito seletivo que Deus pré-determinou para povo de Israel como nação santa e eleita com o fim de levar as outras nações adotar o mesmo padrão religioso praticado pelos israelitas. Israel deveria se colocar diante das nações ao seu redor como arquétipo de obediência a Deus, justiça ao próximo, santidade e humanitarismo. Tudo o que este povo granjeou ao longo do tempo foi injustiça, perversidade, abominação, corrupção, impiedade, desumanidade e desvio das verdades reveladas a eles por meio da lei de Deus e pela revelação de Deus dada aos profetas (). O culto nos templos e nas sinagogas se tornara um aborrecimento para Deus; O SENHOR rejeitou definitivamente as liturgias praticadas ceticamente pelo povo que insistia em sua fé morta (), Deus não mais atentava para os jejuns sacrificantes do povo (), e abominava os holocaustos sacrificais efetuados no templo. A cada dia o povo perdera sua identidade com Deus vivendo dissolutamente pior que qualquer outra nação ímpia. Todo o sistema sacerdotal e o reduto sacrifical perderam sua eficiência e tornaram-se imperfeitos () causando uma profunda viciação religiosa e ao mesmo tempo cismática em todo o povo. Com efeito, profetas foram mortos, pessoas tementes a Deus foram humilhadas, assim, todo o povo escolhido de Deus rejeitou decisivamente a mensagem redentora do Senhor Deus. Deus ainda por sua infinda misericórdia deu-lhes profetas como Amós, Oséias, Isaías e Miquéias a fim de trazer a nação de Israel e a Judá o ultimato divino ao arrependimento sincero de coração. Como conseqüência drástica da apostasia coletiva de Israel e Judá em meados de 730 – 710 a.C Samaria, capital de Israel caiu nas mãos do rei Salmaneser quando Acaz, rei de Judá governava à doze anos (1Rs 17.1-6). Semelhantemente Judá por sua impenitência recebe uma inesperada visita de Senaqueribe rei da Assíria nos tempos de Ezequias (2Rs 18.13-37) que insultou a Deus e desafiou o povo. Ezequias orou a Deus no Templo e solicitou socorro divino contra as forças de Senaqueribe pelo que Deus enviou o profeta Isaías para anunciar a mensagem ao rei Ezequias de que Deus o tinha ouvido acerca de Senaqueribe e que o entregaria nas mãos de Judá (2Rs 19.20-34) da mesma forma como Deus havia dito ao profeta, Senaqueribe e todo o seu exército foram feridos pelo Senhor. As ameaças à destruição da cidade pareciam extintas. Parecia ao povo judeu que tudo ia de bom a melhor para a nação. Até Merodaque-Badalã rei da Babilônia trouxe aparentemente presentes a Ezequias depois da derrota humilhante de Senaqueribe por Deus e levou o povo de Judá a firmar aliança com os babilônios. Por conseguinte, as influências das outras nações permeavam o povo. E Deus levou Isaías novamente ao palácio de Ezequias para reprovar a aliança de Judá feita com a Babilônia e Elão, povos que anteriormente haviam sidos conquistados pelos assírios (2Rs 20.12-18). Ezequias acreditava haver paz e segurança em seu reino próspero e firmou tratados internacionais de rebelião contra a assíria (2 Rs 20.19). A Palavra de Deus anunciada pelo profeta cumpriu-se literalmente no discorrer da história dos judeus de que os nobres da corte de Judá, no reino dos sucessores do rei Ezequias serviriam no palácio real, isto é, na corte da Babilônia como súditos ou como escravos e todos os pertences de sua casa seriam dados como presentes ao rei da Babilônia (2 Rs 20.16-18).  Posteriormente Jeremias, o profeta, registrou em seus escritos os acontecimentos profetizados por Isaías a Ezequias ao reino de Judá e como se cumpriu literalmente por causa da dureza de coração das autoridades do povo (Lm 1-2 e 4). Os capítulos 3 e 5 tratam das causas pelas quais a mão do SENHOR pesou sobre o povo e registra a súplica de misericórdia do profeta a Deus pelo povo, respectivamente. Antes que o povo viesse a ser castigado Deus deu uma última chance ao povo nos tempos de Josias. Josias promoveu uma reforma no templo de Jerusalém quando se faziam 18 anos de reinado (2Rs 22.1-7), este descobriu o Deuteronômio, último livro da Toráh hebraica (Pentateuco) que havia sido guardado e desaparecido (2Rs 22.8-13). Hilquias, o sumo-sacerdote descobriu o livro e o entregou a Safã, encarregado do rei na reforma do templo (2Rs 22.3, 8-10). Deus já havia determinado a destruição da cidade, mas Safã ao ler o livro que fora encontrado na presença do rei permitiu que este, Josias, se humilhasse perante Deus e rasgando as suas vestes mandou consultar os sacerdotes de Deus acerca de todas as coisas prescritas no livro da Lei de Deus (2Rs 22.10-13). Por conseguinte Deus fala na boca de Hulda, a profetisa proferindo todas as palavras do SENHOR aos sacerdotes e oficiais do rei e anunciou a irrevogável sentença que recairia sobre o povo por sua impiedade e obstinação; entretanto, como o rei se voltou para Deus foi assegurado ao rei Josias que nenhum mal sobreviria em seu reino e que o castigo seria para seus sucessores porque estes se desviariam da Lei de Deus irreconciliavelmente (2Rs 22.14-20). Josias promoveu em seu reino várias reformas, entre elas a reforma religiosa do culto ao Único e Verdadeiro Deus (2Rs 23). Depois da morte de Josias conforme havia dito o SENHOR na boca da profetisa Hulda, seus sucessores se rebelaram contra Deus restabelecendo o culto idólatra, então, subiu Nabucodonosor, Rei do vasto império neo-babilônico contra Jerusalém e impôs imposto de submissão a Jeoaquim rei de Judá (2Rs 24.1). Era o início do castigo de Deus sobre o povo de Judá. Tanto Judá como Israel havia sido rejeitado por Deus por causa da dureza de coração e por causa das atitudes decisivas do povo de abominar o culto a Deus (2Rs 23.26, 27). Jeoaquim serviu durante três anos a Nabucodonosor como servo e depois se rebelou contra ele (2Rs 24.1). Deus levantou forças como os caldeus, sírios, moabitas, amonitas que lutaram contra Judá (2Rs 24.2-7). Joaquim assume o poder visto que seu pai morrera e se entrega a delegação da embaixada Babilônica após três anos de cerco às cidades fortificadas de Judá. Assim começara a se cumprir o que Isaías havia dito ao rei Ezequias de que todos os tesouros do templo e de sua casa seriam levados pelos caldeus (cp. 2Rs 20.16-18 com 2Rs 24.10-17). Em seguida, Nabucodonosor nomeia Matanias como novo rei dos judeus e lhe batiza o nome de Zedequias em lugar de Joaquim que passou a servir na corte babilônica (2 Rs 24.18-19). Jeremias alertou várias vezes a zedequias a se voltar para Deus e se submeter à Babilônia (Jr 27), caso contrário, seria o fim de Judá e setenta anos de cativeiro prescreveriam a história do povo Judeu (Jr 25.1-14) Jeremias ainda alertou ao povo a não se aliar aos egípcios porque estes seriam conquistados por Nabucodonosor (Jr 42; 43.8-13; 46;). Tudo o que o povo fez foi ignorar as advertências de Jeremias e se aliar ao Egito obrigando o profeta ir com eles à faraó para fugir da Babilônia e a Faraó Neco pedir-lhe socorro (Jr 43.1-7). As drásticas conseqüências recaíram sobre Judá e Nebuzaradã, chefe real da guarda babilônica entrou na cidade conforme os registros históricos denunciados em 2Rs 24-25.1-22. Jeremias registra duas vezes a invasão de Judá: uma no Cap. 39 e outra no cap. 52. Em meados de 586 a.C todo o Judá caia nas mãos do rei da Babilônia. Assim Deus rejeitou tanto a Israel como Judá que deveriam ser sinônimos perpétuos dos escolhidos por Deus.

Hoje, somos o Israel espiritual de Deus (Gl 4.24-26; Hb 12.23), chamados, eleitos, justificados, santificados e salvos para anunciar a mensagem salvadora da reconciliação e redenção que emanam do Criador. As incredulidades dos judeus e Israelitas abriram para nós as portas da aproximação com Deus e da reconciliação com Ele. Visto que somente o povo de Israel e Judá gozava de privilégios salvíficos estávamos mortos em nossos delitos e pecados porque vivíamos afastados de Deus; entretanto com a incredulidade do povo de Deus passamos a ter vida porque cremos no evangelho Ef 2.1-8. Recebemos a adoção de filhos (Rm 8.15-23; 9.4; Gl 4.5; Ef 1.5) isto é, nós que éramos filhos da ira por natureza, passamos a ser os verdadeiros filhos da promessa de Deus a Abraão (Rm 9.8). É esta a natureza da perfeita vontade de Deus que consiste em dar seu Filho Unigênito para oferecer-lhe ao mundo como Cordeiro pascoal removendo as manchas da culpabilidade provocadas pelo pecado original no ser humano derrocado no Éden. Em suma, isso significa que Ele, Jesus Cristo, conduze-nos à Vida Eterna (Jo 3.16).

1- Análise Clássica da Seção Soteriológica de Romanos 9 – 11
     
      A seção que se segue da Epistola aos Romanos configurados nos capítulos de 9 – 11; trata exclusivamente do povo de Israel e está dividida em três partes centrais: primeira: O capítulo aborda o povo de Israel como nação escolhida e eleita por Deus no passado da sua história (Rm 9.1-29); segunda: versa a presente rejeição do povo israelita ao Evangelho de Jesus Cristo (Rm 9.30-10.21); terceira: contempla a futura salvação do povo ao confessarem o Evangelho (Rm 11.1-36). Paulo desenvolve três notáveis argumentos que põem fim às teorias judaizantes que insinuava supostamente não haver “lugar” para o povo judeu dentro da teologia neotestamentária, por outro lado, Paulo demonstrava provas cabais para os crentes de Roma de que Deus não falhou na sua promessa com o povo judeu, antes, o povo havia deixado Deus e abandonado suas promessas. Para entendermos o plano salvífico de Deus de forma mais clara farei um exposição das três partes centrais desta seção soteriológica paulina que trata da natureza salvadora das promessas de Deus na vida do povo judeu, cujo trecho da carta aos romanos serviu de consolo aos romanos conversos, garantindo a eles a soberania de Deus e o Seu poder de livre decisão e também, traz consigo a garantia de que Deus nunca falhou em suas promessas e sim nós mesmos somos a causa das distorções das promessas Divina quando rejeitamos agir pela vontade de Deus.

Primeira parte: A rejeição judaica ao Evangelho – Esta parte soteriológica está dividida em duas seções principais: a) Uma introdução feita por Paulo com o fim de dar uma resposta contundente aos judeus que viam problemas na soteriologia do novo testamento por declararem que dentro do Evangelho de Cristo parecia não haver lugar para judeus conversos ou não convertidos (Rm 9.1-5). b) Uma exposição de Paulo que trata da rebeldia e rejeição atual do povo judeu ao chamado e eleição divinos e a sua eleição no passado, respectivamente (Rm 9.6-29). A introdução apresentada por Paulo, que contempla os versos de 1-5 trata da incredulidade do povo judeu (v 1), da tristeza de Paulo por essa incredulidade em seu próprio povo e pela resistência de aceitar o Evangelho (v 2), do amor de Paulo pelos judeus e sua condolência por eles (v 3), da glória de Deus manifesta entre seu povo (v 4), da origem nacional de Jesus como Homem entre seu povo e ao mesmo tempo a sua supremacia sobre todos os homens (v 5). Os israelitas não podiam alegar falta de oportunidade. Para Paulo, a sua mente estava confiante e tranqüila, fértil da presença do Espírito Santo e podia sob esta serenidade de espírito falar a verdade por Cristo do testemunho que dele recebeu sobre a Salvação. Paulo tinha a plena certeza de que o testemunhava era verdadeiro. Disse ele: “Em Cristo digo a verdade, não minto (dando-me testemunho a minha consciência no Espírito Santo)” (Rm 9.1 versão Almeida Revista e Corrigida - ARC). A própria consciência de Paulo pregava a ele pelo Espírito Santo sobre esta verdade. Contudo, o apóstolo sentia-se, ao mesmo tempo, melancólico ao ver na sua própria raça separação entre os judeus e gentios convertidos e seu respectivo alcance do Evangelho diluído (Rm 9.2). Por não possuírem a Cristo os judeus se achavam perdidos e decaídos da graça salvadora; Paulo demonstrava apreensiva tristeza pelos que estão sem Cristo. Havia uma crescente preocupação de Paulo pela salvação de sua gente (Rm 10.1); esta atitude de Paulo nos sinaliza o ensino à Igreja atualmente a nos importar-mos com nossa gente, isto é, com os nossos compatriotas no plano da Graça Salvadora de Deus (Rm 11.14). Embora a mensagem de salvação seja atingida pela maioria dos ouvintes através das massas de comunicação como rádio, televisão, internet, ou ainda de modo didático como livros, publicações diversas da Palavra de Deus e outros métodos correntes de difusão, isso não significa dizer que todos serão salvos. Essa é a triste constatação que o próprio apóstolo presenciou em sua época, mas, que não o desestimulou da mensagem que ele deveria anunciar para todos os homens, para que tentasse ganha-los sem que nenhum sequer ficasse de fora do plano salvífico de Deus, embora, apenas alguns se salvassem (1Co 9.22). Paulo mostrava compaixão pelos seus irmãos judeus que já neste tempo perderam as prerrogativas de nação eleita, mas que os considera irmãos consangüíneos, ainda que eles, segundo a carne, recebessem de Deus a adoção de Filhos, a Glória, a Aliança, a Lei, o culto a “Javéh” como modelo litúrgico de culto a Deus e as promessas transmitidas pelos antecessores do seu povo (Rm 9.3-5). Observando as palavras de Paulo percebemos um paralelo entre seu discurso em Rm 9.3; uma notável semelhança com a súplica de Moisés logo após o povo haver transgredido os mandamentos de Deus se contaminando com o bezerro de ouro (Êx 32.32); Cristo sofreu em prol da salvação de todas as pessoas (Mt 23.37; Rm 3.24, 25). Paulo agora ensina aos romanos seguir o mesmo exemplo em relação ao próximo. É esse amor que deve levar a Igreja a se mobilizar evangelicamente no mundo. Paulo não poupa expressões em seu discurso ao referi-se sobre a “Glória de Deus” hb. “Shekinah” (Rm 9.4) indicando que o povo por sua ruptura espiritual havia se perdido e se distanciado do SENHOR Misericordioso e de sua glória, ao contrário do AT., onde a presença de Deus se refletia no Tabernáculo e no Templo quando ainda eram de certa forma, obedientes a Ele. Os melhores manuscritos apóiam a forma singular do termo “Shekinah”, aludindo ao episódio da manifestação Divina de Deus no monte Sinai (Êx 34.8). Em suma, o fato é que o povo ainda tinha a presença de Deus no meio deles de qualquer forma. A glória da segunda casa () havia incidido na Pessoa bendita de Cristo e agora, o povo judeu rejeitou a maior glória já manifestada entre eles. Por fim, Paulo encerra sua inauguração ao capítulo nove demonstrando que todos os judeus na verdade estariam mais próximos da salvação se eles cressem no Evangelho porque foi entre eles que a salvação surgiu: Cristo descendeu dos seus antepassados e nasceu entre seus compatriotas, mas, sua atuação redentora ao povo estaria bloqueada pela limitação insistente do próprio povo judeu em rejeitar a salvação; Cristo para aquele povo era apenas um parente carnal deles; Paulo insiste que este procedimento do povo, contudo, não poderia ser incisivo para mudar a soberania de Cristo sobre esta nação, mesmo que o povo judeu se considerasse “povo escolhido” de Deus e tivesse sua visão focada no judaísmo da Antiga Aliança em detrimento da Nova (Rm 9.5).

Segunda parte: A eleição do povo judeu no passado – Nesta segunda parte do capítulo 9 de Romanos, Paulo trata sobre a ação de Deus com o seu povo, sua relação e as causas da atual incredulidade de Israel. Esta parte se divide em quatro consideráveis peças: a) A rejeição do povo israelita é inteiramente compatível com as promessas de Deus (Rm 9.6-13); b) a rejeição e dureza de coração dos israelitas “são compatíveis” com a justiça de Deus (Rm 9.14-18); c) Deus é Supremo, sua soberania é garantida por sua própria natureza divina, Ele age como bem lhe apraz e decide salvar ou não a quem quiser salvar (Rm 9.19-29); d) é o próprio povo de Israel o agente responsável pela sua respectiva rejeição porque tropeçaram na pedra de tropeço em vez de buscar a fé a Yawéh como Ele requerera deles (Rm 9.30-33). Destarte, as quatro peças traze-nos quatro importantes sínteses do extenso argumento paulino que se desenvolve e depreende no percurso da primeira parte desta seção focada nos judeus:

Primeira síntese (peça) – Paulo declara enfático que a soberana Palavra de Deus não falhou e que o problema não estava na Palavra de Deus e sim no povo. Na relação povo-Deus havia um antagonismo promissório gerado pelo povo, por outro lado, na relação Deus-povo não havia sequer qualquer incompatibilidade nas relações iniciais de Deus e suas promessas. Dentre os que se consideravam autênticos judeus nem todos de fato eram israelitas verdadeiros (Rm 9.1). O povo se preocupava com práticas externas na carne como a circuncisão exterior e se esqueciam da circuncisão interior que é a essencial (Rm 2.28, 29). A incredulidade do povo israelita, contudo não pôde anular a fidelidade de Deus (Rm 3.3), só haveria real virtude no povo se eles se tornassem novas criaturas; como conseqüência desta virtude, paz e misericórdia recairiam sobre o agora “Israel de Deus” (Gl 6.15, 16). Em Rm 9.7 a hipótese utilizada pelos israelitas em afirmar serem filhos de Abraão não garantia ao povo status de “filhos da promessa espiritual”. O texto aqui apresenta claras distinções entre o Israel segundo a carne e o Israel espiritual proveniente dos remanescentes que guardariam a verdadeira fé e estariam identificados por suas atitudes como filhos de Abraão. No pensamento do apóstolo, Isaque é o verdadeiro filho de Abraão, sendo assim, Isaque tipifica a Cristo como verdadeiro filho de Abraão. Paulo conclui que é por Cristo que recebemos a prerrogativa de sermos filhos da promessa Abraônica, e agora, espiritual (Rm 9.7; ver Gl 4.22 e 23). Paulo mostra o contraste entre os descendentes de Isaque que são da promessa (Gn 17.19-21) com os descendentes de Ismael cuja linhagem provinha de Agar (Gl 4.22, 23) e explica que os filhos espirituais da promessa não são propriamente os filhos da carne, isto é, que descendem da raça de Abraão segundo a carne e o sangue (Rm 9.8); Paulo demonstra através das Escrituras Sagradas que na antiguidade Deus cumpriu a promessa feita a Abraão de que Sara, sua esposa, naquele tempo teria um filho e cita Gn 18. 10-14; assim ele reforça o argumento da providência divina e demonstra que mesmo sendo aquele casal já velho e impossibilitado de ter filhos isso não poderia acarretar nenhum impedimento para que Deus realizasse o milagre e o casal concebesse (Rm 9.9 compare com Gn 18.11). O apóstolo exprime em Rm 9.9 esta citação extraída diretamente do Pentateuco hebraico e intensifica que mesmo a incredulidade de Sara em relação à promessa de Deus não foi suficiente para que a invalidasse (Gn 18.12, 14a). Paulo demonstra que é impossível Deus mentir em relação suas promessas; o escritor de Hebreus nos diz “Porque, quando Deus fez a promessa a Abraão, como não tinha outro maior por quem jurasse, jurou por si mesmo” (Hb 6.13 Bíblia Almeida Revista e Corrigida - ARC) Paulo segue a mesma linha de Hebreus ao citar o texto antigo da Torah (Pentateuco) e ao mesmo tempo ensina aos crentes de Roma que a inverdade é contra a própria natureza de Deus, e que tal atitude é absolutamente excêntrica e grotesca à personalidade e caráter de Deus. Paulo deixa transparecer essa afirmativa do pensamento expresso da incontrariedade de Deus no verso 11b: “... para que o propósito de Deus, segundo a eleição, ficasse firme, não por causa das obras, mas por aquele que chama”. Assim como o escritor de Hebreus, Paulo argumenta que Deus jamais pode se contradizer e se baseia em textos do AT para provar a força de seu argumento tais como Sl 110.4; Is 62.8; Jr 22.5; 44.26; Am 4.2. cf. Hb 6.13. Paulo faz uma analogia entre o filho da promessa de Abraão (Isaque) e o neto de Abraão que daria a continuidade das promessas de Deus a toda a linhagem patriarcal até chegar o Messias (Rm 9.10, 11)




(Editado por Daniel Afonso de Melo - Em processo de conclusão)

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