sábado, 13 de novembro de 2010

1° - O Azeite e Suas Aplicações

Introdução


A
Azeitona é o produto da oliveira cuja colheita se fazia no outono. Os antigos hebreus comercializavam o azeite como um dos seus principais produtos chegando ao mesmo prestígio do vinho comercializado. A colheita consistia em sacudir a oliveira ou bate-la com varas (Dt 24.20; Is 17.6; 24.13); deixavam-se as azeitonas que sobejavam nos picos mais altos dos galhos. Todas as azeitonas colhidas eram amassadas e partidas em pequenos fragmentos retirando do produto os cabos, folhas e outros elementos indesejáveis na fabricação do azeite. Os nomes prosaicos da oliveira nas línguas da bacia mediterrânica resultam de duas terminologias: As palavras "elaia" no grego e "zait" no hebraico deram origem à palavra latina "olea" e à árabe "zait". O português assimilou o vocábulo árabe e juntou as raízes “az” e “zait", que significa sumo de azeitona originando a palavra “azeite” em português.

         Das azeitonas colhidas extraia-se o azeite de oliva (Êx 30.34; Lv 24.2) por meio de prensas ou com os pés (Dt 33.24; Mq 6.15) nas cavidades abertas nos rochedos. Também era comum triturar as azeitonas por meio de cilindros metálicos ou de madeira, e logo depois, escoar o produto em recipientes circulares aproveitando todo o bagaço ao máximo possível. Logo em seguida, colocava-se o azeite extraído em vasilhames de pedra para se curtir o azeite, processando-o para sua efetiva depuração.

         O mais puro azeite (heb. Yishar) era a primícia do produto processado; consistia em triturar as azeitonas e amassa-las em um cesto deixando o óleo escoar livremente de maneira natural sem qualquer tipo de pressão. Este era na verdade um trabalho artesanal longo e demorado, cujo óleo retirado não deveria conter impurezas tais como fragmentos remanescentes do processo de escoamento ou vestígios de azeitona; seu processo era mais limpo. Por isso, seu valor pecuniário era mais elevado em relação aos demais óleos comuns extraídos das azeitonas. Os azeites mais puros se espremiam em pilões ou almofarizes (chamados também de grais. Êx 27.20; 29.40). Comparando os outros processos dos óleos comuns com o yishar (óleo puro ou finíssimo) leia Êx 2.4.

       De acordo com as Sagradas Escrituras o azeite fornecido de Salomão ao rei Hirão respondia quantidade de 20.000 batos (2 Cr 2:10), ou 20 coros (1 Rs 5:11), sebe-se que o comércio direto desta produção era, também, sustentado entre o Egito e a Israel (1 Rs 5:11; 2 Cr 2:10-15; Is 30:6; 57.9; Ez 27:17; Os 12:1). O azeite e o vinho juntos respondiam pela maioria das receitas colhidas pelo povo hebreu (Nm 18.12; Ne 13.5).


Aplicações
O

Uso do azeite em toda a Sagrada Escritura era na época essencial nas diversas atividades realizadas pelas gerações. Sua aplicação se dava da alimentação às ofertas de manjares diante do SENHOR ou sua aplicação para fins eclesiásticos, inclusive ainda em tempos atuais. A terminologia aparece nas Escrituras Sagradas com diversidades de sentidos. Em sentido literal usava-se o azeite:

1 – Como Combustível Permanente
no Candelabro de Ouro

     O azeite que se usava no Tabernáculo era o yishar (puríssimo ou finíssimo) usado para acender as lâmpadas tabernáculas (Êx 25.6), era combustível permanente para o Candelabro de ouro (Lv 24.2; Mt 25.3) tal procedimento exigia a cooperação sacerdotal e o apoio do povo como sinônimo de obediência a Deus (Êx 30.22, 23).

2 – Como Alimentação

a) Alimentação para o Povo – Sendo produto comestível era usado nos pães asmos, nos bolos e coscorões, untavam-se os recipientes para seus feitios com óleo e flor de farinha de trigo (Êx 29.2).

b) Nas porções sacerdotais - Cujos cereais eram oferecidos a Deus (oferta de manjares) deitava-se o azeite acrescentando sobre os elementos incenso e atava-se fogo na oferenda dedicada ao SENHOR. (Lv 2.1, 4-7, 15, 16; 6.15; 1Rs 17.12; 1Cr 12.40; Ez 16. 13) dos pães santíssimos  da mesa do SENHOR que sobejava era a parte na porção dos sacerdotes (Lv 24.5-9).

3 – No Uso Geral
O

Azeite fazia parte de toda uma rotina do povo. O Azeite por ser de uso comum e freqüente entre os hebreus antigos era utilizado de modo diário entre os antigos hebreus. Mesmo o processo mais simplificado de fabricação do azeite era alto. Para a comercialização agregava valor pecuniário muito elevado à medida que se obtinha do produto melhores qualidades. Desde a peregrinação rumo à Canaã o azeite representava fartura para a comunidade judaica, consolo e segurança na posse da terra da promissão (Dt 8.8, 9). O azeite era guardado e estocado para sua conservação em armazéns (2 Cr 32.28), botijas (1Rs 4.2), depósitos (1 Cr 27.28), chifres (1Rs 1.39), vasos (2Rs 4.2). Entretanto no contexto geral seu uso era muito difundido em outras atividades tais como:

a) Cosmético: Para amaciar os cabelos e suavizar a pele logo após o banho (Sl 23.5; 104.15; 2 Sm 14.2;

b) No tratamento medicamentoso: No tratamento de úlceras e chagas aplicava-se o produto para aliviar as dores ou queimaduras provocadas pelas doenças (Is 1.6; Mc 6.13; Tg 5.14).

c) Na atividade Profética de Cristo: Simbolizando o poder e a presença do Espírito Santo quanto à administração deste elemento (Mc 6.13).

d) Na administração do presbiterato local: Geralmente administrado a um cristão enfermo impossibilitado de realizar suas atividades cotidianas devido ao seu estado de saúde (Tg 5.14).

4 - No Ofício Sacerdotal

Nos serviços episcopais era exigido segundo prescrições legais e nos Escritos Sagrados o seu uso como se segue:


I - Para a efetuação da unção com óleo:

a)     Na Eleição de Sacerdotes:

N
o período do êxodo hebreu os homens escolhidos por Deus para exercerem função sacerdotal (os da tribo levita, necessariamente) só estariam aptos a ingressarem na carreira de sacerdote após passarem por uma cerimônia litúrgica apropriada. Era necessária uma investidura de sete dias para a ordenação ao sacerdócio araônico e os demais sacerdócios (Êx 29. 4-35; veja os detalhes da ordenação em Lv 8.1-36); depois se passava pelo rito batismal (não se trata aqui do batismo descrito em Mt 21.25; Mc 1.4; Lc 3.3, etc., cujo significado era representar a remissão dos pecados), isto é, era a cessão cerimonial de purificação litúrgica no sentido de higiene e simbolismo da pureza que deveria envolver o oficial aspirado ao ofício. Após o ato de lavagem o aspirante ao cargo era vestido, ungido com azeite santíssimo (yishar), propiciado (sacrifício em favor do sacerdote), cobertos e aspergidos com sangue sacrificial de animais considerados ritualmente limpos. O último estágio era a liturgia da alimentação. O teólogo Dr. Russel Shedd considera quatro características para a ordenação sacerdotal no período veterotestamentário como ele mesmo comenta: “1° - A dedicação dos sacerdotes se simbolizava quando chegavam à hora solene com o escol do rebanho; 2° – Com os melhores rebanhos do campo; 3° – com os corpos purificados pela água; 4° – vestidos com roupas de serviço, de oração e de pureza; 5° – ungidos pelas bênçãos divinas...” (A Bíblia Vida Nova – S. R. Edições Vida Nova – Russel Shedd 1978, nota de comentário de Êxodo 29.1, pg 94). Para mais material bíblico confira em Êx 29.3-7; Sl 133.2.

b)     Ao povo de Israel administrando sobre ele o azeite da Salvação:

O
 Azeite da Salvação considerado como a “arte do perfumista” (Êx 30.25; 37.29) teve precursores egípcios. O povo judeu passou cerca de quatrocentos anos escravizados no Egito onde puderam aprender a arte de trabalhar com especiarias finas, usadas, sobretudo na coorte egípcia. A composição do incenso santíssimo consistia em substâncias odoríferas, estoraque, ônica e gálbano, estes aromáticas, incenso puro todos com a mesma medida (Êx 30.34). Era adicionado o sal santíssimo às substâncias (Êx 30.35) e depois misturado com óleo (Êx 37.29). Este elemento havia sido prescrito por Deus; seu emprego tinha a finalidade única e exclusiva à Deus (Êx 30.37); qualquer que violasse este mandamento seria eliminado do seu povo (Êx 30.38;)

c)     Aplicava-se o Azeite Santíssimo ou Azeite da Unção Para Unção de Reis:

Os reis só poderiam ser “reis” se houvesse uma escolha divina para tal função. Ninguém poderia simplesmente se intitular “rei” se primeiramente não antecedesse o chamado divino. Os Israelitas pediram um rei a Samuel (1Sm 8) com este comportamento, rejeitaram a Deus como Rei supremo (1Sm 8.7). Entretanto, não foi o povo que escolheu o primeiro rei; Deus havia instruído Samuel por revelação divina de que um homem da terra de Benjamim sairia ao seu encontro um dia antes de Saul ser constituído rei (1Sm 9.15). Deus é quem escolheu Saul (v 15, 17; 10.24, 25) para ser rei. A desobediência de Saul provocou a ira do Senhor fazendo com que Deus o rejeitasse como chefe do povo definitivamente (1 Sm 15) e em seu lugar Davi foi escolhido como novo rei (1Sm 16.3, 12, 13). O azeite da unção era o ato formal e cerimonial que demonstrava essa escolha por parte de Deus a outrem. Os reis de Israel e Judá normalmente eram descritos como “o ungido do SENHOR” (cf. 1 Sm 12.3; 24.6; 26.9, 11, 16; 2 Sm 1.14, 16; 19.21). A primeira unção de Davi simbolizou a ordenação de Deus, isto é, o reconhecimento divino de que ele, Davi era escolhido pelo Senhor (1Sm 2.10); já as duas unções seguintes registradas em 2 Sm 2.7 e 5.3  simbolizavam a unção de Davi como rei de maneira pública e patente ao povo tanto em Hebrom como em Jerusalém respectivamente. Para mais unção sobre reis, vide 1Sm 10.1; 16.1, 12, 13; 1Rs 1.39; Sl 89. 20.

d)     No sentido e emprego religioso

O azeite representa religiosamente a unção, o poder, a escolha ou chamado por parte de Deus a outrem. Isso no sentido religioso indicava que Deus tornava a pessoa escolhida para oficiar função de sacerdote, profeta ou de rei, santificada diante dEle (Sl 23.5; 89.20). A pessoa  deste modo estava separada para Deus para exercer qualquer das funções anteriormente citadas; o escolhido e ungido recebia (uma em plena obediência com Deus) a proteção divina e qualquer que o tocasse, isto é, desrespeitasse um ungido de Deus, tocaria no próprio Deus (Sl 105.15). Hoje esta unção se estendeu a todos os eleitos de Deus (Zc 2.8).

e)     Para ungir o Tabernáculo e todos os seus pertences: (Êx 30.26, 27; 40.9).

O  “Santo óleo” descrito em Êx 30.22-38 e 31.11 se compunha de cálamo aromático, canela aromática, mirra puríssima, cássia e azeite de oliva, como seguem nos artigos regimentares do sacerdócio (Êx 30.22-23). Para que se trabalhasse na sua produção, o tabernáculo deveria recolher quinhentos siclos da mais pura mirra, quinhentos siclos de cássia, duzentos e cinqüenta siclos de canela aromática, duzentos e cinqüenta siclos de cálamo aromático e um him de azeite de oliva. Considerando que cada siclo corresponde a 11,4 gramas, quinhentos siclos correspondem a 5,7 kg. Duzentos e cinqüenta siclos correspondem à metade, 2,85 kg. 1 (hum) him é igual a um sexto do bato (que media aproximadamente 37 litros). Logo 1/6 do bato é igual a 0,16 batos ou 6,16 litros (6,16l). Trazendo para a medida atual temos: 5,700 kg de mirra, 5,700 kg de cássia, 2,850 kg de canela aromática, 2,850 kg de cálamo aromático e 6,160l de azeite de oliva, somando tudo 17,10 kg aproximadamente de especiarias, além dos 6,16 litros de azeite. (Êx 30.23-24). Era com este azeite especial que os sacerdotes ungiam o Tabernáculo, a Arca do Concerto (ou do Testemunho), A mesa e seus utensílios, o Altar do Holocausto, o Altar do incenso, o Castiçal de ouro e seus elementos (Êx 30.26-28). O azeite especial destinado para fins litúrgico-templário era expressamente proibido a qualquer cidadão comum do povo (Êx 30.30), era usado somente na santificação do santuário como primícia aromática e consagrada ao SENHOR (Êx 30.26-29), para ungir o altar de bronze (Êx 29.26), a Bacia de Bronze (Êx 40.11), ou para a ordenação do sacerdote aspirante ao cargo destinado (Êx 30.30). Seguia-se, portanto, em caso do descumprimento legal a execução penal de exterminação da pessoa infratora, caso violasse a santidade, isto é, a separação do produto destinado a fins exclusivamente litúrgicos ou que não tivesse autorização expressa divina ou sacerdotal (Êx 30.31; 31.11).

II - Na sua fabricação

A fabricação do azeite se dava ainda de cinco formas diferentes:

a)    Pelos sacerdotes e levitas (1Cr 9.30).
b)    Neste caso, além dos filhos dos sacerdotes os menos favorecidos (pobres) da terra trabalhavam para seus senhores na produção de azeite (Jó 24.11).
c)    O produto era derivado da oliveira (Êx 30.24; Lv 24.2).
d)    Podia também ser fabricado de mirra (Et 2.12)
e)    Ou de outro processo de extração que se prestava de modo diferente (cp Mq 6.15 com Ag 2.16).

III – Aplicava-se ainda o azeite no uso geral

O azeite era aplicado de oito maneiras distintas que variava de uso comestível às mais finas liturgias:

a)               Com ungüento (Jó 11.2).
b)               Para enfeitar as pessoas (Dt 3.3).
c)                Refrescar o corpo (2Cr 28.15).
d)               Purificá-lo (Et 2.12; Is 57.9).
e)               Curar os enfermos (inclui aqui o uso do óleo, também no sentido espiritual. Mc 6.13; Tg 5.14).
f)                  Curar ferimentos (Is 1.6; Lc 10.34).
g)               Preparar as aparelhagens e armamentos de guerra para a batalha (Is 21.5).
h)               Preparar os mortos para o sepultamento (neste caso, a maioria das vezes fazia o procedimento por meio de bálsamo, um líquido oleoso denso e perfumado, de cor amarela pálida que servia de proteção para a pele, evitando assim a decomposição rápida do corpo. Mt 23.56; 26.12; Mc 6.1).
i)                   Como elemento comestível e na fabricação de pães (1Rs 17.14; 2Rs 4.2)

5.  Os Sentidos Figurativos do Azeite em Alguns Textos da Bíblia Sagrada

E
m sentido figurado o termo recebe várias conotações. Não tratarei de uma explicação completa dos muitos versos, sentidos e significados que o azeite representa na literatura bíblica. Quero, porém, apresentar algumas aqui em especial:

Primeiro sentido: Consolo

Em Sl 23.5; a expressão “unges a minha cabeça com óleo” está dividida em duas situações interpretativas: primeira - Alguns estudiosos consideram que sua interpretação dispõe de possibilidades polissêmicas de sentido. Segunda – Estudiosos mais fundamentalistas preferem tratar da questão ambiguamente evitando os excessos de variações interpretativas. Por esta linha existem duas posições em apreço:

a) O óleo aqui mencionado por Davi tem o sentido de consolar as feridas adquiridas pela ovelha durante a sua trajetória provocada por espinhos e pedregulhos ao longo do caminho. Baseado no ponto 3, item “b” das aplicações do azeite em pauta a posição do item justifica a linguajem figurada aqui empregada. Nesta linha de raciocínio o SENHOR é o grande Pastor de Israel que trata as suas feridas e lhe provê a cura das suas chagas aliviando as suas dores pelo azeite espiritual. Era muito comum que os hospedeiros recepcionassem seus hóspedes com o azeite perfumado sobre a fronte ou sobre a cabeça do recém-chegado. Este era o sinal de boas-vindas. Para o Crente o texto representa Cristo como nosso Sumo Pastor recepcionando-nos com o óleo das boas vindas. Representa também o óleo que alivia a dureza no caminho rumo à Pátria Celestial (Hb 11.14; 13.14). 

b) Por outro lado, o óleo aparece figuradamente nas Sagradas Escrituras associado às bênçãos de maneira muito freqüente (Sl 45.7 cf. Sl 92.10; 104.15; 133.2; Ec 9.8; Am 6.6; Lc 7.46). O óleo aqui sobre a cabeça representa as bênçãos e os favores de Deus promovidos sob a unção do Espírito Santo; considerando que o azeite (óleo) representa a presença permanente de Deus e de seu Espírito em nós (Ef 5.18).


Segundo sentido: A unção do Espírito Santo 

Em Sl 45.7; a expressão “por isso, Deus, o teu Deus, te ungiu com o óleo de alegria” está intima e diretamente relacionada com a unção de Cristo pelo Santo Espírito. Ela está confirmando o ministério terreno de Jesus aprovado por Deus (Mt 3.16,17). O óleo da alegria é o selo da aprovação de Deus em Cristo como único capaz de desempenhar tal missão. Quando este texto foi produzido, o sentido desta unção indicava no verso “6” do mesmo capítulo de Salmos que, sendo o príncipe-rei como acredita alguns eruditos, um membro da dinastia davídica (cp. 2Sm 7) a aplicação desta figuração continha um sentido imediato e muito próximo (1Cr 28.5; 29.23). Dr. MacArthur ao fazer uma nota de comentário sobre este verso, tomando como princípio-base Hb 1.8, 9; diz que por meio da revelação progressiva “sabemos da aplicação máximo para alguém ‘maior do que Salomão’ que é Deus – O Senhor Jesus Cristo” (O MacArthur Study Bible, nota de comentário sobre Sl 45.6, 7).  Embora a declaração de MacArthur pareça introduzir novamente à teologia cristã atual e definida uma negativa da natureza distintiva existencial entre o Cristo-Homem e o Cristo-Deus, como ele mesmo comenta em At 2.28; “Paulo acreditava tão fortemente na unicidade de Deus Pai e do Senhor Jesus Cristo, para que ele pudesse falar da morte de Cristo como o derramamento do sangue de Deus - que não tem corpo e, portanto, sem sangue” (O MacArthur Study Bible, nota sobre Atos 20.28) muito fortemente parece-nos ressuscitar em nossos dias o chamado nestorianismo, surgido no quinto século da era cristã [Nestório acreditava que a natureza de Cristo, era na verdade, uma “dupla personalidade”, portanto, algo análogo à habitação plenária do Espírito Santo na Pessoa de Cristo. Foi o Concílio de Calcedônia que já havia definido esta doutrina, pondo fim a esta posição herética corrente no ano 451 A.D. pelo Sínodo de Calcedônia determinando assim uma “dupla natureza” em Cristo: A Natureza Divina (Jo 1.1) e a Natureza humana (Lc 24.36-41) reunidas numa só Pessoa]. Entretanto, MacArthur deixa claro uma coisa na qual podemos concordar com ele: Sl 45.7 culminou em alguém superior a Salomão –  Jesus Cristo. Isso significa que:

I – Em Mt 3.16 temos as seguintes descrições:
a)             Cristo nasceu sob a unção e operação do Espírito Santo (Lc 1.35).
b)             Toda a obra de Cristo realizou-se mediante a ação do Espírito Santo logo após o seu batismo nas águas como se segue nos textos Mt 4.1, 14, 18; Jo 4.34; At 1.2; 10.38.
c)              O Espírito dota Cristo de poder para completar a obra da redenção (Lc 3.22).
d)             Sendo batizado no Espírito Santo, Cristo agora batizou todos os seus seguidores capacitando-os no poder do Espírito Santo (Mt 3.11; At 1.5,8; 2.4).

II – Em Mt 6.17 concorre à ação trinitariana de Deus manifesta em três Pessoas:

a)     O Pai dando testemunho do seu Filho, Jesus como seu Filho (v 17).
Jesus, declarado Deus (At 10.30) sendo batizado nas águas em diálogo com o Pai (V 17a).
b)    O Espírito Santo que também é igual ao Pai (At 5.3, 4) atestando que Cristo é o Filho de Deus, O Messias (vv 16, 17).
III – O óleo de alegria descrito em Sl 45.7 se aplica neste contexto unicamente a Cristo até o cumprimento profético. O Messias prometido que haveria de vir teria seu selo no Espírito Santo seria a evidência clara do cumprimento profético messiânico. Somente após o cumprimento profético, o óleo de alegria se estenderia gradativamente a todos os fiéis seguidores piedosos de Cristo Jesus como ação capacitadora e regeneradora do Espírito Santo, que promove em nós os frutos do Espírito que são: Amor (algumas traduções trazem “caridade”, pode ser interpretado por “ternura”), gozo (prazer), paz (calma), longanimidade (generosidade), benignidade (afeto, carinho), bondade (benevolência), Fé (certeza, confiança, veracidade), mansidão (brandura), temperança (prudência, moderação) Gl 5.22,23. A eminente diligência destes predicados espirituais não só são emblemáticos, mas como também são dons espirituais do processo regenerativo resultante da alegria no Espírito (Rm 14.17). O óleo de alegria nos possibilita a cumprir todos os requisitos da lei sem nos preocuparmos com suas imposições involuntárias (obediência cega e forçada), isto é, sem que a lei cause interferência na nossa vida prática; os nascidos do Espírito (Jo 3.5, 9; Cl 3.8, 9;) não estão debaixo da lei porque contra todos as característica acima enumeradas não há lei (Gl 5.23) o que significa que cumprimos ‘naturalmente’ a lei, sem forçar a observância e sem o peso da obrigatoriedade, ou seja, ter frutos do Espírito não é fazermos para sermos espirituais, mas fazemos porque somos espirituais (quanto ao conteúdo geral deste item, vd. Sl 45.7; Is 61.3).

Terceiro sentido: Remédio

Em Sl 141.5 o salmista compara o óleo (azeite) com tratamento medicamentoso espiritual. Todos os verdadeiros servos de Deus aceitam sem qualquer questionamento a correção e a repreensão onde couber em assuntos, coisas, ou práticas que contrariem a santidade de Deus. Devemos apoiar amplamente a pregação contra o pecado e o liberalismo dentro das Igrejas de Deus (Pv 15.5, 32; Jo 16.8; Ef 5.11; 2Tm 4.2). É verdade que a nossa própria condição espiritual é revelada em nossa atitude para com servos de Deus que, porventura, se encontrem nestas condições (2Tm 4.3, 4).

Quarto sentido: Palavra e o Poder de Deus

Em Zc 4.2, 3 e 12 o óleo (azeite) simboliza a Palavra de Deus a Zorobabel, governador da Judéia e a Josué, o Sumo-sacerdote (cf. vv 2 e 3) e a unção de Deus sobre eles quando comparado Zc 4.12; com 4.14 do mesmo. O castiçal de ouro (vide Ap) descrito em Zacarias é um lampadário que continha azeite. Servia de apoio a sete lâmpadas que se encontravam sob o vaso de azeite, e estavam dispostas ao derredor do receptáculo. O azeite fluía do vaso para alimentar o fogo aceso nas lâmpadas. Neste modo o azeite simboliza o poder inexaurível e superabundante de Deus através do Espírito Santo. Cada lâmpada tinha sete canudos (rebordos) cada um com um pavio resultando em quarenta e nove chamas. As lâmpadas representam o povo de Deus, que outorgam a plenitude da luz ao mundo (Mt 5.13,14; Mc 9.50; Lc 14.34) por origem do fluxo de poder que emana do Espírito Santo (At 1.8). Os dois ramos olivais representam Zorobabel e Josué (Ag 1.1; Zc 4.12-14) e denunciava a responsabilidade destes dois líderes de levarem todo o povo à obediência a Deus (Zc 4.3), por outro lado a árvore representa o ministério real e sacerdotal do próprio Cristo que é a videira verdadeira (Jo 15.1, 5) a árvore cujos ramos estão ligados (Jo 15.2-4). É ele quem batiza com o Espírito Santo (Mt 3.11 e Lc 3.16).

5 - Sentido literal ou de especiarias

O azeite possui outros sentidos especiais como óleos e especiarias

a)     O bálsamo era muito importante na cultura oriental antiga, inclusive em Israel e Judá. Passagens como Ec 7.1 mostra bem a sua importância. O óleo cosmético que alisava os cabelos e amaciava a pele (Et 2.12; Ec 9.8) muitas vezes foi empregado na unção de Cristo por piedosas mulheres como expressão de adoração (Mt 26.6-13; Lc 7.36-50.) o texto de Jeremias apresenta o bálsamo de Gileade como remédio (Jr 8.22; vd. Ap 3.18), e era especiaria que se usava em preparação de sepultamento de defunto (Lc 23.56). A composição balsâmica era muito semelhante e quase sempre idêntica à composição do Óleo santo (Êx 30.25).
b)     Os ungüentos comuns na antiga palestina consistiam em azeite perfumado. É importante ressaltar que a palavra no hebraico traduzida por “óleo”, “azeite” pode se traduzir também por “ungüento”, “bálsamo”, por isso, alguns versos vistos anteriormente se repetem em dados momentos (2Rs 20.13; Pv 17.9; Ec 7.1; 9.8; 10.1; Ct 1.3; 4.10; Is 57.9; Am 6.6).

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